Corrida por terras raras acirra disputa entre EUA, China e Japão por minerais de Goiás
- OCANEDO OFICIAL
- 26 de jul.
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Empresas com atuação internacional miram cidades como Nova Roma, Mara Rosa, Iporá e Minaçu; entenda

Mesmo sob o impacto do tarifaço imposto pelos Estados Unidos, Goiás entrou de vez no tabuleiro da geopolítica mundial dos minerais estratégicos. Além dos EUA, China, Japão e União Europeia disputam o acesso às jazidas goianas de lítio e terras raras, essenciais para indústrias de baterias, veículos elétricos, magnetos e tecnologia de ponta.
“Goiás virou cartão na mesa de negociações”, afirma o secretário estadual de Indústria e Comércio, Joel Santanna Braga. “Hoje, temos quatro mercados disputando nossas terras raras. O imposto de 50% atrapalha, mas não impede a abertura de diálogo, desde que o governo federal negocie redução do tarifaço.”
Para o presidente do Sindicato das Indústrias de Mineração de Goiás e do Distrito Federal (Minde), Luiz Antônio Vessani, a ofensiva americana é uma resposta direta ao domínio chinês sobre os minerais que movem a transição energética. “A China controla 90% do mercado de terras raras e lítio. Os EUA querem sair dessa dependência. O tarifaço força realocação de investimentos para abastecer os EUA sem depender da China.”
Terras raras: Goiás na mira do Japão
Enquanto os americanos travam disputas tarifárias com o Brasil, os japoneses aceleram negociações. Após missão oficial a Tóquio, o governo de Goiás relatou mudança de postura dos asiáticos ao conhecer o potencial local de terras raras pesadas, consideradas mais difíceis de processar e com maior valor agregado.
“Quando falamos de terras raras em Goiás, lá no Japão, eles ficaram desanimados no início. Mas ao mencionarmos que Goiás possui a maior mina de terras raras pesadas, em Mararosa e Iporá, eles mudaram completamente de postura”, disse Joel.
“O ministro japonês de Economia, Indústria e Mineração explicou que a indústria automobilística japonesa depende desse insumo para evoluir os híbridos e elétricos”. Segundo o secretário, os japoneses já marcaram visita ao estado em agosto. “Querem visitar as minas e definir acordos de investimento e tecnologia.”
Interesse dos EUA em Nova Roma
Apesar do tarifaço, os norte-americanos não saíram da disputa. “Os EUA já estão no Brasil buscando projetos de terras raras, lítio e minerais energéticos. Goiás será grande produtor mundial desses minerais”, afirma Vessani. Ele conta que investidores dos Estados Unidos já solicitaram licenças em Nova Roma, mas dependem da liberação ambiental do estado e, principalmente, de um acordo político entre os governos.
“O investimento previsto em Nova Roma é de quase R$ 4 bilhões. Mas o mais valioso é a transferência de tecnologia, que gera emprego e valor agregado local. Vender matéria-prima sem verticalizar é perder riqueza.”
Vessani também chama atenção para a assimetria nas relações comerciais. “Os EUA dependem hoje de importação de 1% vinda do Brasil, mas 15% a 20% do que exportamos vai para os EUA. Somos 20 vezes mais afetados.”
Diplomacia lenta pode custar caro
Tanto Joel quanto Vessani criticam a falta de ação do governo federal diante do tarifaço. “Sem sentar com os EUA, a taxa de 50% permanece. Enquanto Argentina, Colômbia e Paraguai já renegociaram para 10%, mantemos 50%. Essa demora vai gerar desemprego e prejuízos no açúcar orgânico e etanol, setores fortes em Goiás”, alerta Joel.
Para Vessani, o papel do governo federal é crucial. “Como minerador, colocamos minas em produção. Mas a diplomacia é com Brasília.”
Minerais em Goiás despertam atenção global
Atualmente, Goiás tem três minas já identificadas com potencial de exploração em grande escala: Nova Roma, Mara Rosa e Minaçu. “Só 35% do solo goiano foi estudado. Temos muito a revelar”, diz Joel.
Além dos recursos naturais, o estado já atrai projetos industriais estratégicos. Em Tóquio, foi assinado um contrato com a Mitsubishi para a produção de catalisadores em Catalão, voltados à exportação para a América do Sul.
“O foco não são bilhões em reservas, mas na tecnologia que gera empregos e renda local. Marcos de exploração só valem quando geram valor agregado”, conclui Joel. “Goiás tem o novo petróleo do mundo.”
Minaçu: EUA ainda não tem acesso
O prefeito de Minaçu, Carlos Alberto Leréia, afirmou que os minérios produzidos na cidade não são exportados para os Estados Unidos. “As terras raras tem contrato com a China, e o amianto também não vai para os EUA. Nenhum grupo chinês explora aqui. A empresa que está operando terras raras tem investidores americanos, suíços e belgas. Mas vende para a China porque apenas ela tem a tecnologia para fazer a separação desse tipo de minério.”
De acordo com Leréia, nem mesmo os Estados Unidos têm capacidade técnica para processar os materiais brutos extraídos em Goiás. “Mesmo que o Estados Unidos tenham o mineral bruto, eles não têm tecnologia para fazer a separação. Apenas a China faz isso no mundo.”

O prefeito defende que o Brasil invista com urgência na verticalização da cadeia. “Temos em abundância, mas também não temos tecnologia. O Brasil tem que correr atrás. Aí nosso país dava uma adiantada grande. Hoje nós só temos o mineral bruto, que tem que ir para fora. Apenas a China faz isso no mundo.”
Ele destaca ainda que o estado mais prejudicado pelo tarifaço deve ser o Espírito Santo, principal exportador de pedras como o granito. “Em Goiás, não tenho conhecimento de minerais extraídos e vendidos para os Estados Unidos”.